História de vida De um ponto de vista evolutivo, a razão de existência de um indivíduo é produzir novas gerações bem sucedidas tanto quanto possível. A reprodução envolve a escolha dentre muitas opções: quando começar a reproduzir, quantos filhotes ter a cada vez e quanto cuidado dedicar a eles.Os atributos do calendário da vida de um indivíduo, como a idade em que atinge a maturidade sexual, o número de descendentes por evento reprodutivo, também chamado de fecundidade, o número de eventos reprodutivos, ou parição, e a expectativa de vida compõem a história de vida do indivíduo. As histórias de vida são fenômenos complexos, influenciados por fatores ambientais, pela estrutura geral do corpo e estilo de vida dos organismos, como também por suas respostas individuais e evolutivas às condições físicas, suprimento de alimentos, predadores e outros aspectos do ambiente. Quando o ambiente de um indivíduo varia, ele pode responder alterando o seu comportamento, sua fisiologia ou mesmo seu desenvolvimento. Desse modo, a capacidade de responder a variações no ambiente é em si um aspecto da história de vida que está sujeito à seleção natural. (RICKLEFS, 2003). A história de vida de um organismo representa a solução que ele encontrou para como alocar tempo e recursos limitados de modo a atingir o máximo sucesso reprodutivo, uma vez que a energia ou materiais destinados a uma estrutura ou função não podem ser alocados para outras (RICKLEFS, 2003). Invertebrados marinhos Além dos fatores físicos e químicos do ambiente, das interações intra- e interespecíficas como competição e predação e migração, a estrutura de comunidades bentônicas marinhas pode ser controlada pelo suprimento de larvas, pelo sucesso no assentamento e por mecanismos de transporte larval, sendo estes componentes de grande importância na explicação de flutuações de espécies no espaço e no tempo (VENTURA & PIRES, 2002; TOWNSEND et al., 2006). | Os invertebrados marinhos possuem uma grande variedade de formas de reprodução, que vão desde a fecundação interna, como ocorrem nos caranguejos e siris até a liberação de grande quantidade de espermatozóides e óvulos na água. Os invertebrados sésseis geralmente apresentam essa última estratégia. Um exemplo são os corais, que quanto à método de reprodução de dispersão larval podem ser classificados em poedeiros e brotadores. Os primeiros liberam espermatozóides e óvulos diretamente na água, onde suas larvas permanecerão por uma semana ou mais antes de se estabelecerem e começarem a crescer como corais, permitindo uma maior dispersão. Essa é uma vantagem significativa para a colonização de novos hábitats. Quanto aos brotadores, estes liberam larvas completamente crescidas, que se estabelecem muito mais rapidamente, porém aresentam uma menor dispersão (VENTURA.& PIRES, 2002; RICKLEFS, 2003). O período que uma larva permanece na coluna d’água está, em princípio, diretamente relacionado ao seu potencial de dispersão. Considerando que entre os invertebrados marinhos o tempo de duração das fases larvais é muito variado, as larvas podem ser classificadas quanto ao seu potencial de dispersão. Desta forma, as larvas teleplânicas são aquelas que permanecem na coluna d’água por um período de dois meses a um ano. A distribuição das larvas teleplânicas sugere que sejam capazes de uma disperção transoceânica, pois são encontradas tanto no oceano Atlântico quanto no Pacífico. Este tipo larvar ocorre em bivalves, gastrópodos, poliquetas, crustáceos, sipunculídeos e, provavelmente, entre crustáceos braquiúros (caranguejo e siris), lofoforados e equinodermas. As larvas acteplânicas são aquelas com períodos planctônicos que variam de uma semana a menos de dois meses. A grande maioria das espécies temperadas de infralitoral estão nessa categoria. As larvas que permanecem menos tempo na coluna d’água (horas a poucos dias) são denominadas de larvas anquiplânicas e são comuns em vários grupos como nos corais, anteriormente citados, poliquetas, esponjas, briozoários e ascídias. As larvas que não possuem uma fase planctônica, ou seja, tornam-se competentes para o assentamento logo após a sua liberação, são classificadas como larvas aplânicas. Este é o caso do bivalve Gemma gemma, do gastrópodo Littorina saxatilis e de alguns poliquetas. Quanto maior o potencial de dispersão da larva, maior a capacidade de colonizar novas áreas. Entretanto, a pressão causada pela predação por organismos filtradores pode provocar altas taxas de mortalidade e diminuir o recrutamento (SCHELTEMA, 1989; VENTURA.& PIRES, 2002). Todas estratégias listadas a seguir tentam resolver o problema da alocação de tempo e recursos limitados para a reprodução de modo que a estratégia adotada permita um melhor ajustamento da espécie em um ambiente, bem como a colonização de novas áreas. Dessa forma, os organismos que produzem uma grande quantidade de larvas e que estas permanecem um longo período na coluna d’água, apesar de estarem sujeitas a uma maior mortalidade, apresentam uma vantagem para a colonização de novas áreas. Isso pode ser uma característica importante em ambientes altamente perturbados, tanto por distúrbios causados por fatores físicos (como tempestades), quanto por predação. Como os componentes da história de vida de um organismo são determinados geneticamente, a seleção natural pode atuar favorecendo a estratégia que gere um maior sucesso reprodutivo em um dado ambiente. Artigos relacionados ao tema: |