A revista parte do contexto atual, no qual a indefinição sobre a crise é tamanha a ponto de ainda não se saber se ela permanece imponente ou já pode entrar nos livros de história. Os esforços governamentais se sucedem (e se atropelam, em muitos casos), o mercado dá seus passos e a população permanece agindo de maneira receosa. As dificuldades para se encontrar uma solução para crise econômica são compreensíveis. Desde o sucedido entre 1929 e 1936, nunca se viu crise tão profunda e tão complexa. Daí o fato de Estudos Avançados editar um novo dossiê sobre o tema. Nele, inicialmente se destaca estudo do professor e economista Luiz Carlos Bresser-Pereira sobre o ideário político e ideológico que presidiu a conduta dos dirigentes que comandaram a economia nos principais países, nos últimos anos. De acordo com o artigo, houve uma adoção excessiva de teses do neoliberalismo que atacaram o Estado em nome do mercado e, eventualmente, também o próprio mercado. O resultado, portanto, foi e é a crise que recai principalmente sobre as populações mais pobres e economicamente mais fracas, ampliando em escala nunca vista o desemprego e a multiplicação dos excluídos na sociedade. A professora Leda Paulani, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, cita em seu ensaio uma alteração profunda na forma de funcionamento do capitalismo, fazendo com que o regime de acumulação do capital seja dominado pela valorização financeira. No texto estão dados comprovando como, de 1980 a 2006, o PIB mundial cresceu 4,1 vezes, enquanto a riqueza financeira no mesmo período cresceu 13,9 vezes. Em outras palavras, nesse período o crescimento da riqueza fictícia ocorreu numa velocidade muito maior do que o crescimento da riqueza real – representada pelas instalações, máquinas, equipamentos, obras civis, tecnologia e tudo o mais que permite a produção de bens e serviços. Daí as dificuldades para agora se retomar o desenvolvimento da economia real, particularmente nos Estados Unidos e nos países europeus. | Os ensaios publicados no dossiê mostram os efeitos da crise na economia brasileira. O professor Marcio Pochmann, da Unicamp, registra o fato de que o funcionamento do mercado de trabalho foi desfavorável àqueles que dependem do próprio trabalho para sobreviver. Apesar disso, a pobreza nas seis regiões metropolitanas brasileiras não tem aumentado, graças à elevação do valor real do salário mínimo e à existência de uma rede de garantia de renda social. A revista traz também depoimentos que focalizam questões essenciais sobre a realidade brasileira. O professor Guilherme Dias, também da FEA, fez um balanço crítico dos principais problemas da agricultura e da pecuária em conseqüência da crise econômica que atingiu profundamente a exportação de alimentos pelo Brasil. O pesquisador defende a tese de que a crise determina significativas mudanças tecnológicas, o que não será fácil em razão das divergências em nossos meios rurais. Outros temas A edição inclui ainda um outro dossiê, "Cidade e Exclusão", com textos resultantes de um estudo pioneiro de urbanística comparada que o IEA promoveu em colaboração com o programa "Social Exclusion, Territories, Urban Policies in India and Brazil". O professor Crodowaldo Pavan, morto em abril de 2009, é tema de homenagem produzida por Luiz Edmundo de Magalhães. E há ainda resenhas assinadas por Arlenice Almeida da Silva, Luiz Sérgio Rodrigues, Roseli Figaro e outros autores. Serviço A revista Estudos Avançados pode ser encontrada no próprio IEA/USP (Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374, Cidade Universitária, São Paulo) e em outros endereços, listados no site do IEA. Fonte: usp.br |
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